Escape

2008320日(木曜日)

O ano mal começou (é uma impressão... o que fiz até aqui?) e eu já me sinto tão cansada de tudo... Preciso de um tempo pra mim. Estou farta da rotina, do trabalho, das relações falidas. Já tem semanas que estou me isolando. Parece que nada por aqui me faz “despertar” para a vida. Aquela paixão desenfreada que até poucos dias atrás eu tinha pelo meu trabalho está um pouco afetada.

A minha salvação contra o desânimo tem sido as horas na internet, em bate-papos. Tenho a impressão (falsa?) de que as pessoas reais ao meu redor não me entendem, não “falam” a minha língua. Não devia ser assim, mas as interações virtuais estão rendendo mais do que as conversas ao vivo. Até que, vez ou outra, aparece alguém que consegue, enfim,  me tirar do lugar-comum que virou a vida, mesmo que uma parte minha ainda permaneça voltada para algo que (ainda) não existe. Uma expectativa.

O problema é que esses “encontros” não duram muito. Parece que a conversa até poderia ser interessante, mas eu consigo exterminar rapidamente qualquer possibilidade de interação futura mais duradoura ou menos superficial. E não vou dizer que no "anonimato" é diferente. O padrão é o mesmo. Mantenho minhas reservas. A aproximação é sempre a mais básica. A diferença é que é mais divertido. Não vou dizer o porquê.

Eu deveria estar feliz agora, mas uma tristeza absurda e sem identidade está me consumindo por dentro. Estou meio parada no tempo, como se estivesse esperando por alguma coisa. A minha estrutura mais elementar precisa de um pequeno abalo sísmico, qualquer um que seja. Algo que me faça acordar para a vida lá fora ou aqui dentro mesmo. Enquanto isso não acontece, vou continuar a empreender a minha fuga.

 * * *

Roteiro para empreender a fuga

Reter o vão
Chacoalhar guizos de canduras
A velar saudades
Olhar derradeiro as disposições dos trigos
Recolher as tranças das rosas
Beirar a ânsia de conter o então
                        E depois.
                        Ajeitando o cerco com urgências
                        E fechaduras.
                        Repisar o charco
                        Levasse um naco de alma
                        Reinventar companhias
                        Calcular senões
                        Improvisar amor
                        Refundir amálgamas de pedras
                        E vegetais.
Levar também a chave
Para o caso de querer retornar.

Whisner Fraga

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